A boa notícia ficou por conta das TVs a cabo, cuja receita subiu 4% em relação a 2017. O relatório do Pew Research Center, publicado desde 2004, traça indicadores econômicos e de audiência sobre a indústria de mídia dos EUA. Nesta análise destrinchamos os números e, ao final, destacamos outra pesquisa que mostra que 50% dos jovens dos EUA estão consumindo notícias pelo YouTube – mas não de organizações jornalísticas.

Desde 2004, o Pew Research Center publica um relatório anual com indicadores de audiência e econômicos sobre a indústria de mídia dos EUA. São dados que dizem respeito à maneira como os americanos buscam notícias, como as organizações jornalísticas obtêm suas receitas, etc. 

  • O State of the News Media é um clássico no Farol Jornalismo. Relembre nossas análises dos relatórios de 2018, 2017, 2016 e 2015.

A riqueza desse material sobre a mídia dos EUA me faz pensar imediatamente em como precisamos de um relatório desses aqui no Brasil. A Pesquisa Brasileira de Mídia, editada pela Secretaria de Comunicação do governo federal em 2015 e 2016 foi uma boa tentativa, mas que infelizmente não teve continuidade. 

Vamos então aos principais destaques? Em seguida, vou concentrar a análise na seção das notícias digitais.

1. A circulação de jornais atingiu em 2018 seu nível mais baixo desde 1940

A circulação total de jornais diários (impressos e digitais combinados) foi estimada em 28,6 milhões para os dias da semana e 30,8 milhões para o domingo em 2018. Esses números caíram 8% e 9%, respectivamente, em relação ao ano anterior. A circulação digital para jornais diários cresceu em 2018, embora não o suficiente para reverter o declínio geral na circulação. A receita publicitária de jornais caiu 13%.

O gráfico abaixo mostra bem essa queda vertiginosa:

2. A boa notícia fica por conta do setor de TV a cabo, que está em crescimento

A receita subiu 4% em relação a 2017 para Fox News, CNN e MSNBC juntas. Isso fez da TV a cabo um dos únicos setores com aumento de receita em 2018. Especificamente no ramo das notícias, o aumento foi de um terço (36%) desde 2015, com a receita de anúncios crescendo 58% no mesmo período. 

Ao contrário de outros setores que normalmente veem quedas de receita em anos não eleitorais, as notícias de TV a cabo estão em constante crescimento desde as eleições de 2016 (quando Trump foi eleito). A parte ruim que o relatório destaca é que esse crescimento não resultou em mais empregos.

3. A receita de publicidade digital cresceu muito, mas a maioria vai para Facebook e Google, e não para os publishers 

A receita de anúncios colocados em plataformas digitais – contando todas as plataformas, não apenas sites de notícias – aumentou 23% em 2018 e agora representa quase metade (49%) de toda a receita publicitária nos EUA.

Quando se trata de exibir receita publicitária – uma forma de publicidade digital que inclui banners, vídeos e outras propagandas que organizações noticiosas e outros sites normalmente incluem em seu conteúdo – metade de toda a receita digital foi para apenas duas empresas de tecnologia: Facebook (40%) e Google (12%). Esse crescimento na receita de anúncios digitais não foi suficiente para compensar o declínio da receita de anúncios tradicionais em alguns setores. Cerca de um terço da receita publicitária de jornais (35%) agora vem do digital, mas a receita total de anúncios continua a cair. 

Enquanto o veículos nativos digitais estão em ascensão – sua força de trabalho quase dobrou nos últimos 10 anos – esse crescimento não substituiu a perda de emprego nos jornais dos EUA.

4. O tráfego para sites de notícias parece ter se estabilizado

O número de visitantes únicos nos sites de jornais e nativos digitais não cresceu entre os quatro trimestres de 2017 e 2018 – o segundo ano em que não houve crescimento notável. Só para ter uma ideia de comparação, de 2014 a 2016, o tráfego aumentou de forma constante para ambos os setores no quarto trimestre.

O tempo gasto nesses sites diminuiu também: o número médio de minutos por visita nos nativos digitais caiu 16% desde 2016. Segundo o relatório, isso decorre da preferência da audiência norte-americana pelas mídias sociais como fonte para notícias.

O mercado das notícias digitais

A grande maioria dos adultos nos EUA consome notícias online (seja através do celular ou desktop), e a internet é o meio onde está grande parte dos novos veículos. O Pew Research Center se concentrou nos nativos digitais (segundo eles, as informações sobre os veículos tradicionais – legacy media – virá mais tarde).

Como dissemos acima, a média mensal de visitantes únicos mensais no quarto trimestre de 2018 foi de 22,4 milhões, um pouco mais do que os 21,7 milhões de 2017. A média de minutos por visita foi de 2 minutos, abaixo dos 2,4 minutos do ano anterior.

Os veículos têm diversas maneiras de alcançar a audiência, incluindo aplicativos, newsletters, podcasts e plataformas de agregação, como o Apple News ou o Flipboard. O uso dessas diferentes ferramentas varia de acordo com o nativo digital. 

No entanto, os aplicativos parecem não ser tão populares. Menos da metade dos veículos de maior tráfego possui aplicativos (iOS e Android), abaixo do valor de 2018 de 57%.

Por outro lado, as newsletters estão em alta: mais de oito em dez (84%) desses veículos têm newsletters e quase todos têm uma presença oficial no Apple News (95%) ou no Flipboard (92%). Uma grande maioria (73%) lança podcasts e 54% permite comentários em suas matérias (um percentual baixo, não?).

Como era de se esperar, os nativos digitais são altamente propensos a usar as mídias sociais como parte de sua estratégia para alcançar a audiência. Semelhante a 2018, Facebook, Twitter, YouTube e Instagram são amplamente utilizados, com todos os veículos em 2019 tendo presença oficial em cada um deles. No entanto, apenas dois em dez (22%) tem uma conta no Snapchat, um aumento de 8 pontos percentuais em relação ao ano anterior.

Crescimento das contratações

Aproximadamente 13.500 funcionários trabalharam como repórteres, editores, fotógrafos ou videojornalistas nas redações dos nativos digitais em 2018. O salário médio anual foi aproximadamente US$ 62.000 para repórteres e US$ 63.000 para editores em 2018. 

O gráfico abaixo mostra um aumento no número de contratações, se comparado a 2017, e um crescimento ao longo dos últimos 10 anos:

Pesquisa Common Sense/ SurveyMonkey sobre consumo de notícias no Youtube

Esta matéria da Adweek afirma que o resultado da enquete feita com 1.005 adolescentes norte-americanos entre 13 e 17 anos surpreendeu: 50% deles estão consumindo notícias pelo YouTube, mas não de organizações jornalísticas. Seis em cada dez disseram ser mais propensos a receber notícias de celebridades, influenciadores e personalidades do que de veículos jornalísticos.

Entre os adolescentes que se interessam pelas notícias, 65% disseram que os ajuda a entender melhor o que está acontecendo. No entanto, 19% disseram que receber notícias via mídias sociais os deixa mais confusos sobre os acontecimentos atuais.

Mais algumas descobertas da pesquisa:

  • Entre os entrevistados que recorrem ao YouTube em busca de notícias, metade disse que faz isso a partir dos vídeos recomendados pela própria plataforma (por meio da opção “assistir próximos” ou na barra lateral). 
  • Apenas 10% pesquisam por notícias no YouTube e somente 7% assistem a vídeos de notícias porque alguém que conhecem na vida real compartilhou.
  • 27% dos adolescentes que recebem suas notícias via YouTube se inscrevem em canais específicos para notícias.
  • Por que o YouTube? 64% dos entrevistados disseram que “ver fotos e vídeos mostrando o que aconteceu” ajudou-os a entender os principais eventos noticiosos, enquanto 36% disseram que preferiam ler ou ouvir as notícias.

De acordo com o CEO da Common Sense, James Steyer, “essas descobertas levantam preocupações sobre que tipo de notícia a próxima geração está usando para moldar suas decisões. Existem poucos padrões para o que constitui notícias e com que precisão são retratados nas plataformas que os adolescentes usam. Com a eleição de 2020 chegando, precisamos garantir que os adolescentes recebam suas notícias de fontes confiáveis, pensando criticamente e tomando decisões informadas”.