Relatório anual do Reuters Institute mostra ainda que a lacuna de confiança nas notícias persiste, assim como o foco nas assinaturas dos leitores.

Esta semana o Reuters Institute divulgou o relatório “Jornalismo, mídia, tendências e previsões tecnológicas 2020”, http://www.digitalnewsreport.org/publications/2020/journalism-media-and-technology-trends-and-predictions-2020/  pesquisa feita anualmente sobre as projeções para a indústria de notícias. Este ano, a survey online foi respondida por 233 executivos seniores de 32 países, e conduzida por Nic Newman.

Traduzimos abaixo as 6 principais tendências identificadas na pesquisa. Vamos lá?

1. Existe uma lacuna de confiança na indústria

Quase três quartos dos entrevistados (73%) dizem que se sentem confiantes ou muito confiantes sobre as perspectivas de seu veículo em 2020. É uma avaliação surpreendentemente otimista, dada a incerteza política e comercial contínua. E mostra que as estratégias de receita e diversificação de leitores estão começando a dar frutos.

No entanto, esses mesmos executivos de mídia têm menos confiança no jornalismo em geral (46%) e no jornalismo de interesse público em particular. Existe uma inquietação generalizada sobre o declínio das notícias locais e as crescentes pressões em muitos países sobre jornalistas que tentam fiscalizar os ricos e poderosos.

2. Foco nas assinaturas se intensifica

Os publishers continuam apostando fortemente na receita dos leitores, com metade (50%) dizendo que esse será o principal fluxo de receita daqui para frente. Cerca de um terço (35%) acha que a receita de publicidade e de leitores será igualmente importante, com apenas um em cada sete (14%) depositando suas esperanças apenas na publicidade.

Este ano, as agências de notícia do sul da Europa estarão mais inclinadas utilizar o modelo. Na Espanha, o El Mundo já começou a cobrar por conteúdo premium. Publicações menores também estão obtendo sucesso por meio de uma variedade de modelos de assinatura e membership. No entanto, o sucesso não é garantido:

“A crescente concorrência por um número limitado de pessoas dispostas a pagar por notícias provavelmente será um desafio este ano, à medida que os modelos de assinaturas amadurecem. O desconto pesado já é generalizado e as taxas de rotatividade provavelmente se tornarão uma preocupação crescente para aqueles que não podem provar um valor consistente para o público “, adverte o autor do relatório, Nic Newman.

O relatório sugere que a coleta de dados primários se tornará um foco importante para os publishers este ano, após as regulamentações de privacidade mais rígidas na Europa e nos Estados Unidos. Mas a combinação de paywalls e cadastros continuam sendo barreiras no caminho dos usuários de notícias casuais.

3. Google é mais popular que Facebook

A pesquisa com os líderes digitais mostra que eles permanecem mais positivos sobre o Google e o Twitter do que Apple, Facebook, Snapchat e Amazon quando se trata de iniciativas para apoiar o jornalismo. Mais da metade dos entrevistados classificou o Google como médio ou melhor, mas todas as outras plataformas atraíram mais sentimentos negativos do que positivos.

A pontuação mais alta do Google reflete o grande número de publishers que são beneficiários atuais ou passados ​​dos fundos de inovação do Google e que colaboram com a empresa em vários produtos relacionados a notícias. A pontuação mais baixa do Facebook pode refletir desconfiança histórica dos publishers após uma série de mudanças na estratégia da empresa, que deixaram alguns editores expostos financeiramente.

Neste sentido, os entrevistados desejam condições equitativas em que possam competir de maneira justa e obter uma compensação adequada pelo valor que seus conteúdos têm.

Os publishers acham que as intervenções dos órgãos reguladores e governos com relação às plataformas tem mais probabilidade de prejudicar (25%) do que ajudar (18%) o jornalismo, com a maioria sentindo que não fará diferença (56%).

4. Grandes avanços na diversidade, mas não em todas as áreas

Os entrevistados dizem que fizeram grandes progressos em relação à diversidade de gênero, com três quartos (76%) acreditando que sua organização está fazendo um bom trabalho. No entanto, eles se avaliam menos bem na diversidade política (48%) e na diversidade racial (33%).

Dentro dessas médias, podemos detectar diferenças regionais significativas, com os publishers escandinavos muito mais confiantes sobre a diversidade de gênero do que os de outras partes da Europa. No geral, as mulheres eram mais céticas quanto à taxa de progresso do que os homens.

A falta de diversidade também pode ser um fator para trazer novos talentos para o setor. Os editores têm uma confiança muito baixa de que podem atrair e reter talentos em tecnologia (24%) e ciência de dados (24%), além de gerenciamento de produtos (39%). A confiança é maior nas áreas editoriais (76%).

5. Podcasts continuam em destaque

Parece ser mais um grande ano para os podcasts, com mais da metade dos entrevistados dizendo que estão promovendo vários tipos de iniciativas de podcast este ano. O Times de Londres é um dos muitos que lançará um podcast diário de notícias em 2020. Outros estão investindo em formatos de bate-papo / entrevista ou documentários como o Le Monde, por exemplo, que lançou recentemente três novas séries de podcast adaptadas de reportagens investigativas.

A receita de podcasts deve crescer cerca de 30% ao ano, atingindo mais de US$ 1 bilhão até 2021 nos EUA. Em outros lugares, as receitas serão mais lentas e, apesar da clara oportunidade, muitos editores ainda mão aderiram. Outros estão buscando criar novos serviços para dispositivos de voz ou transformar reportagens de texto em áudio para capitalizar o crescimento da audiência de podcasts entre os jovens.

6. Publishers aumentam uso da IA ​​nas redações

Os entrevistados planejam aumentar o uso da inteligência artificial para promover uma distribuição mais eficaz do conteúdo. Mais da metade afirma que criar recomendações melhores será muito importante este ano, seguido de usos comerciais, como o uso da IA ​​para segmentar possíveis assinantes e otimizar paywalls.

Essas tendências são bons indicadores do que podemos esperar do jornalismo de referência em 2020, certo? Além do relatório, o Reuters Institute recomenda os artigos abaixo, para quem deseja entender melhor o que está por vir: