O objetivo da categorização é compreender melhor como são as newsletters jornalísticas brasileiras.
Nesta análise, vamos dar continuidade à categorização das newsletters jornalísticas. Como o Moreno explicou aqui, estamos trabalhando numa proposta de tipologia. Partimos de um corpus já disponível, o diretório de newsletters brasileiras gratuitas criado pelo Manual do Usuário. Selecionamos 13 boletins: Don’t LAI to me, Escola de Dados, Mural Inbox, Pindograma, Cajueira, ObjETHOS, Nonada, Descentraliza, Canal Reload, CastNews, Lente (Agência Lupa), Portal Catarinas e Agência Tatu.
Para rememorar, um breve resumo das duas primeiras categorias:
- Periodicidade
As newsletters semanais tendem a ser mais analíticas e/ou contextualizadoras/explicativas. Também se justificam quando se dedicam a uma cobertura que não tem tanto assunto para sustentar uma newsletter diária. Já as quinzenais parecem não estar ancoradas em um ciclo que costuma reger o cotidiano das pessoas. Boletins quinzenais correm o risco de não entrar na rotina dos assinantes, e assim não serem lidos.
- Linguagem/ estilo
Linguagem formal: texto direto, impessoal, marcado por uma abordagem noticiosa, que usa prioritariamente a terceira pessoa e (quase) não se dirige ao seu leitor, seja através do modo imperativo, seja por meio de perguntas.
Linguagem informal: começam uma jornada coloquialidade adentro, mas não necessariamente estabelecem uma conversa com o seu público. Há um uso maior do imperativo e de call to action.
Linguagem conversacional: assumem explicitamente, em seu texto, que há uma pessoa lendo do outro lado, e por essa razão se dirigem diretamente a ela – algo que a linguagem jornalística historicamente não costuma fazer.
Vamos agora às outras três categorias que analisamos no mês de dezembro durante as edições da NFJ.
- Curadoria
São três os tipos de curadoria que identificamos: a interna, na qual o veículo linka para conteúdos próprios, que normalmente estão em seu site ou em outros produtos seus; a externa, que leva o leitor para links de outros sites; e a mista, que, como o próprio nome diz, mistura curadoria interna e externa.
Seguimos sem analisar as newsletters da Escola de Dados e Pindograma, pois não recebemos. Quatro boletins fazem curadoria interna: Don’t LAI to me, Mural Inbox, Cajueira e Portal Catarinas. Destaco a mais recente edição da Cajueira, que traz uma entrevista completa na própria newsletter.
Cinco são de curadoria mista: ObjEthos, Nonada, Canal Reload, Agência Tatu e Lente. Além de divulgar conteúdos próprios, essas organizações ampliam o leque de informações para o leitor. A news do Canal Reload, por exemplo, começa com um giro sobre as principais notícias da semana.
Por fim, os boletins CastNews e Descentraliza fazem uma curadoria externa. No primeiro, é possível saber tudo o que acontece no mundo dos podcasts. Já a Descentraliza faz um mapeamento das produções de jornalismo independente, com links para diferentes sites de notícias.
- Uso de links
Nesta categoria, o objetivo é identificar se há ou não o uso de links. E por quê? A hipertextualidade é uma das principais características do jornalismo digital e da internet como um todo. Ela fornece ao leitor uma navegação hipertextual, dando a ele autonomia e mais profundidade de conteúdo. Em uma newsletter, o uso de links conecta a informação com o site do veículo (link interno), contribuindo para sua autoridade com relação aos mecanismos de busca.
Para além desses argumentos técnicos, em boletins como Don’t LAI to me, Mural Inbox, Cajueira e Portal Catarinas, os links são também uma maneira de atualizar o leitor sobre o que há de novo no site. Já nas news Descentraliza e CastNews, que fazem uma curadoria externa (assunto da semana passada), os links levam para outros sites. Nesses casos, o objetivo é prover o leitor de uma seleção de conteúdos de nicho que não são originalmente produzidos pelo veículo. Há boletins que fazem as duas coisas: usam os links para informações próprias e também para conteúdos de terceiros. É o caso das newsletters do ObjEthos, Nonada, Lente, Canal Reload e Agência Tatu.
Vale destacar que, em todos os casos, o uso de links não é fruto de uma automatização, ou seja, não se trata simplesmente de um layout pré-programado, com links para os conteúdos mais recentes. As organizações analisadas, mesmo quando usam links externos, têm o cuidado de relacioná-los com determinado tema, indo além de oferecer somente uma lista de links. Então, resumindo: quanto ao uso de links, a resposta é “sim” para todas as newsletters analisadas.
- Uso de imagens
Essa parece ser uma decisão somente visual, mas não é. Alguns serviços de e-mail bloqueiam imagens, por questões de segurança. Então, ao abrir a caixa de mensagens, é preciso habilitar a exibição de imagens para ter acesso ao conteúdo completo da newsletter. Por isso, nunca é recomendado que a news seja formada por um único arquivo de imagem.
Outra questão técnica é o tamanho: quando a imagem é muito pesada, demora a carregar e isso pode comprometer a experiência do leitor. Assim, para além do layout, inserir ou não imagens em uma newsletter acaba sendo também uma decisão técnica. Dos boletins que analisamos, só dois não utilizam imagens: ObjEthos e Cajueira.
Para a análise, consideramos como imagens os elementos visuais que vão além da logomarca dos veículos ou de banners com as seções das newsletters.
Na Don’t LAI to me, o uso de infográficos auxilia na compreensão dos dados.
As fotos na news da Agência Mural mostram a realidade da periferia e destacam seus moradores.
A Nonada utilizou um print para chamar o conteúdo em vídeo.
E o Portal Catarinas criou uma arte para promover sua live.
Em todos os casos, as imagens quebram a uniformidade do texto e dão leveza à leitura.
E assim concluímos a análise das tipologias de newsletters. Faz sentido para vocês? A ideia é ir aprimorando a categorização, de modo a compreender melhor como são as newsletters de jornalismo brasileiras.