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Como a inovação tem sido tratada nas organizações jornalísticas brasileiras? Com essa pergunta norteadora, o Farol Jornalismo inicia hoje uma série de entrevistas que pretende mapear as principais tendências nas redações do país em 2019. Inspirados pelo relatório do Reuters Institute, da Universidade de Oxford, vamos atrás das oportunidades e desafios enfrentados pelo jornalismo neste ano.
Entrevista e texto
Edição
A primeira entrevistada é Paula Miraglia, CEO e cofundadora do Nexo Jornal. Por Skype, conversamos sobre sustentabilidade financeira – que virá este ano, segundo ela – e sobre a cultura de inovação, que é marca desde a criação do veículo, em 2015. “A capacidade de experimentar, mudar rápido e inovar é a nossa grande vantagem competitiva”, afirma.
Alcançar mais pessoas está entre os principais desafios do Nexo. “Queremos crescer, tem muita gente que ainda não nos conhece. Apostamos na qualidade do nosso produto e vemos isso pela taxa de conversão de audiência e assinantes”, diz. Embora não informe esses números, Miraglia afirma que há um crescimento constante e sustentável.
A diversidade de projetos previstos para 2019 ratifica o cenário positivo: nova seção no site, projeto para estudantes de jornalismo negros, Nexo Edu para cursinhos populares, nova temporada do podcast Politiquês e até um novo veículo estão no horizonte do Nexo. Em primeira mão, Miraglia conta que a publicação será lançada ainda este ano. “Não tem nada a ver com o Nexo, mas é dentro do nosso grupo. E estamos montando uma equipe nova para isso”.
Além de domínio sobre as estratégias de negócio, é perceptível a sua empolgação ao falar sobre o relacionamento do jornal com os leitores. Miraglia dá exemplos e enfatiza que o endosso público é um dos principais indicadores de sucesso. “As pessoas apontam erros, a gente responde; fazem perguntas, a gente explica; reclamam que têm que pagar para ler o jornal, a gente explica por que a assinatura foi nossa aposta. Isso já criou, nas nossas redes sociais, uma interlocução muito grande”, conta.
Entre os destaques recentes estão o prêmio de melhor site de notícias da América Latina pela WAN-IFRA, um lugar na lista de finalistas a melhor site de notícias do mundo – concorrendo com o Guardian e o Washington Post – e a conquista do selo do Trust Project.
Antes de começar, algumas informações importantes. Nós não apenas entrevistamos a Paula. Nós comentamos a entrevista, oferecendo a vocês alguns recursos para contextualizar a discussão. Aqui embaixo, à esquerda vocês encontram as legendas dos ícones utilizados para orientar a leitura comentada. À direita, vocês encontram alguns assuntos citados pela entrevistada. Ao clicar vocês vão direto para o ponto da entrevista em que o assunto é citado.
Pausa para um parêntese: quando você encontrar este ícone, significa que lá vem um comentário nosso para enriquecer e contextualizar a leitura.Documento: quando este ícone aparecer, junto dele estará um link direcionando para algum documento importante citado no comentário ou na entrevista.Aspas: um clássico. Junto deste ícone estará um trecho da fala do entrevistado. Você também pode clicar nos trechos do abre para ir direto ao ponto.Insights da equipe do Farol Jornalismo: sempre ao final de cada entrevista, compartilharemos pequenas reflexões a respeito da discussão proposta.
Confira a entrevista.Como está estruturado o Nexo em termos de editorias e áreas dentro da redação?
Hoje o Nexo tem os núcleos Política, Economia e Internacional; o núcleo de Contemporaneidades, que reúne urbanismo, saúde pública, segurança pública, cultura, internet etc; o núcleo de Projetos Especiais, onde são planejados projetos e organizadas as pautas dos interativos, dos projetos especiais mensais. Temos ainda os núcleos de Infografia, Arte, Tecnologia e Operações.
A capacidade de experimentar, mudar rápido e inovar é a nossa grande vantagem competitiva.
As newsletters têm sido bastante utilizadas no jornalismo como fator de impulsionamento da lealdade do público. Na NFJ #221 falamos sobre como construir hábito – e não page views. É um círculo virtuoso: esse hábito de leitura leva a uma maior frequência de consumo de notícias e mostra-se decisivo na retenção de assinantes – mais do que o número de matérias lidas ou o tempo de permanência.Existe um editoria de inovação?
Um traço muito importante do Nexo é a forma colaborativa com a qual esses núcleos trabalham. Não existe um núcleo responsável pela inovação, ela vai aparecendo de acordo com a demanda e está sempre no nosso horizonte. Em muitos momentos é espontâneo, e acho que isso é muito característico de uma startup, de uma redação que tem o tamanho da nossa e esse nível de colaboração. Por exemplo, mandamos recentemente uma newsletter com todos os gráficos que o Nexo já fez até hoje usando dados do Censo. Era um modelo de newsletter que a gente não tinha, para tratar de um assunto que estava sendo debatido, usando um material nosso. Essa conversa começou numa reunião de Gráficos e passou para uma reunião do pessoal que trabalha com BI [Business Intelligence, área que faz análise de dados]. Tem espaço para inovação em todos esses núcleos, mas sobretudo no trabalho em conjunto. Além disso, no nosso seminário interno feito no começo do ano, uma das coisas que eu coloquei, e que é um desafio para qualquer redação, é você cultivar uma cultura de experimentação permanente.Qual é o grande passo do Nexo em 2019?
Estamos olhando para duas coisas neste ano: por mais que sejamos nativos digitais,precisamos estimular essa cultura do digital dentro da redação todo o tempo. A outra coisa é a cultura de inovação.
O Nexo já foi lançado com muita inovação, a gente tem formatos com o qual o jornalismo tradicional não trabalhava, mas isso não significa que chegamos lá e acabou. A capacidade de experimentar, mudar rápido e inovar é a nossa grande vantagem competitiva. E para funcionar, isso não pode estar concentrado em nenhum lugar, tem que ser uma cultura da organização.
Do mesmo jeito que somos um jornal 100% digital, que investe em rigor e equilíbrio, investimos muito em inovação. Desde o conteúdo editorial, dos formatos, até do ponto de vista da experiência do usuário. Além disso, queremos crescer, tem muita gente que ainda não conhece o Nexo. Apostamos muito na qualidade do nosso produto e vemos isso pela nossa taxa de conversão de audiência e assinantes. Então a gente quer chegar nessas pessoas, isso é uma coisa importante para este ano.
A cultura de inovação que Paula Miraglia menciona se contrapõe a uma quase obsessão pela tecnologia. Julie Posetti fez um estudo para o Reuters Institute que pergunta: como o jornalismo pode deixar de ser guiado pela tecnologia para ser empoderado por ela, mantendo o foco na audiência? Segundo ela, o jornalismo deve parar implacavelmente de buscar “coisas brilhantes e reluzentes” (“bright, shiny things”) às custas de conceitos centrais como conteúdo, desenvolvimento de negócios e audiências. Leia na NFJ #212.
E com relação a novos formatos, produtos e projetos?
Vamos lançar um formato novo em breve, não posso adiantar muita coisa, mas estamos perto de lançar. É uma seção nova dentro do site, um formato que a gente vai experimentar. E quando formos lançar a estratégia é contar para as pessoas por que a gente desenhou esse formato. Nós contamos, explicamos as coisas, compartilhamos com eles e temos tentado adotar uma perspectiva de transparência radical com nossos leitores. Vamos lançar também dois programas importantes em 2019: um sobre diversidade na comunicação, em aproximadamente um mês, que vai fazer uma chamada para estudantes de jornalismo negros para um projeto de formação de 10 meses. Estamos super animados com isso. E ainda um programa específico do Nexo Edu para cursinhos populares. Além disso, a partir do projeto especial das eleições, muito bem-sucedido no ano passado, que nos mostrou o poder de uma cobertura planejada, teremos, em 2019, outro projeto dessa natureza. O Nexo, desde o seu lançamento, investiu nos podcasts e isso tem crescido muito. O nosso podcast diário Durma com Essa é um hit, está constantemente entre os três podcasts de notícias mais escutados em todas as plataformas.
A diversidade nas redações é um hot topic muito bem-vindo. Neste texto que repercutimos na NFJ #190, Dairan Paul afirma que diversificar redações é apostar no jornalismo de qualidade. Vejam o tamanho do problema: pesquisa do Observatório Europeu de Jornalismo mostrou que as notícias na Europa são predominantemente feitas por e sobre homens. Até os tamanhos das fotos são desiguais (NFJ #184). Nos EUA não é muito diferente: homens continuam a produzir a maioria das notícias e a lacuna é particularmente chocante nas agências de notícia – 69% das assinaturas da AP e da Reuters vão para os homens, segundo o estudo “The status of women in the U.S. Media 2019” (NFJ #220).
No Brasil, pesquisa realizada em 2017 pela Abraji, Gênero e Número, com apoio do Google News Lab, mostrou que 65,7% das jornalistas afirmaram ter tido sua competência questionada por colegas ou superiores e 83,6% já sofreram algum tipo de violência psicológica nas redações (NFJ #184). Neste texto, o colunista do Nexo Denis Burgieman fala sobre a importância da diversidade na redação a partir de sua experiência como editor da Super.Então a ideia é continuar investindo nos podcasts?
Isso, vamos lançar a segunda temporada do Politiquês com um novo formato e teremos programas novos, essa é uma frente que está crescendo bastante. Com relação ao Durma com Essa, acho que a gente acertou muito no formato, é ágil, curto e é consumido tanto no final do dia quanto nas manhãs porque ele é mandado também na a-nexo do dia seguinte. E ele cria uma conexão maior das pessoas da redação do Nexo com os leitores. Outro dia o Durma foi gravado por três mulheres e os leitores elogiaram muito. Temos também uma série com ótimo retorno que chama “Como começar” a ler, a escutar, a assistir…
Podcasts estão se popularizando em todo o mundo devido à qualidade do conteúdo e à distribuição mais fácil. Foi o que indicou o Digital News Report 2018. O relatório ainda apontou que os jovens são muito mais propensos a ouvir podcasts do que rádio convencional. Assistentes digitais ativados por voz, como o Amazon Echo e o Google Home, também continuam a crescer. Vejam na NFJ #188.
Normalmente a gente associa inovação a produtos ou a formatos cheios de pirotecnia mas nem sempre isso está aderente ao comportamento do público. Vocês pensam nisso, em fazer coisas inovadoras, mas que possam ser consumidas pelo público de vocês?
Depois de um ano e meio do Nexo no ar, a gente entendeu que não era porque podíamos fazer determinadas coisas que deveríamos fazer. Hoje a gente tem mais tranquilidade para conseguir avaliar: quando é que faz sentido você usar uma interatividade? Por que tal assunto vai ser tratado num vídeo? Esse vídeo vai ter animação ou um apresentador? Vai ser um vídeo curto ou longo? Merece estar num Expresso ou num Explicado? Vamos trazer uma grande base de dados para ajudar no contexto de alguma coisa? Então o critério é fundamental. Colocar a experiência do usuário no centro da nossa produção passa por aí também: a pessoa quer ler uma coisa longuíssima ou ela quer consumir algo que dê contexto, que ajude a entender o que está em jogo nesse momento e pronto? É um pouco entender qual é o interesse e a necessidade do público. Entender o comportamento e o interesse é se pensar também como alguém que está entregando notícias para pessoas que não se informam exclusivamente pelo seu canal, não têm todo tempo do mundo e se informam muito pelo telefone – a ideia do mobile first é fundamental. Hoje em dia não dá para pensar o conteúdo sem uma interação direta com o seu leitor. E aí tem uma outra frente para a qual estamos muito atentos: a gente se comunica muito com nossos leitores.
Jennifer Brandel, jornalista e CEO da Hearken, afirma que envolver o público é inovar no processo. Para ela, é necessária uma mudança de postura das redações, que deveriam estar perguntando aos leitores o que podem fazer para ajudá-los, em vez de oferecer as matérias sob a lógica do “aqui está o que nós achamos que você precisa saber”. Falamos sobre isso na NFJ #229. E na NFJ #199 destacamos a criação do grupo do Nexo no Facebook.E como vocês medem essa experiência do usuário, esse comportamento?
Para além de ferramentas, nós temos uma interação grande com nossos leitores, recebemos muitos emails e respondemos todos. Temos um grupo de assinantes do Nexo no Facebook no qual as pessoas mandam sugestão de pauta, fazem perguntas, querem entender coisas do nosso processo de produção, apontam erros, questionam metodologia, pedem explicações. Esse tipo de interação também nos ajuda muito a entender quem é a nossa audiência. As pessoas já chegam com encomendas de pauta que são muito a cara do Nexo: “Olha, li tal coisa, mas nunca ouvi falar disso, poderiam explicar?” E ouvimos também as reclamações.Hoje a redação está com quantas pessoas? Existe previsão de crescimento da equipe?
São 37 pessoas, incluindo administrativo, secretárias, estagiários… Estamos agora em um processo de contratação. A gente oscila um pouco e vai crescendo a partir das demandas. Mas não pretendemos crescer radicalmente, isso não está nos planos do Nexo. Vou te contar em primeira mão: a gente vai lançar uma outra publicação, que não tem nada a ver com o Nexo, mas é dentro do nosso grupo. E por isso estamos montando uma equipe nova.
Hoje em dia não dá para pensar o conteúdo sem uma interação direta com o seu leitor.
É um novo veículo?
Exatamente. Não é na área de jornalismo explicativo, é um outro formato, para ser lançado ainda este ano.Com relação ao Nexo Edu, o quanto esse braço do Nexo representa em termos de esforços da equipe?
O conteúdo produzido para o Nexo Edu é o mesmo do Nexo. O Nexo Edu é uma plataforma com uma curadoria de conteúdos do Nexo e que têm uma vocação particular para a sala de aula, organizada de uma maneira diferente. A home do Edu lembra a home do Nexo, mas não é igual. A frequência de atualização é quase diária. Tem pessoas que trabalham especificamente com isso, porque temos duas newsletters que são só do Edu.E essa interface com a Educação é uma característica do Nexo…
Sim. Para nós isso estava claro desde o começo. Queríamos ter uma interface grande com a educação e, aos poucos, fomos entendendo como. Hoje o Nexo Edu é vendido para escolas particulares, para professores e para alunos. A gente tem um projeto piloto de estar na rede pública de dois estados brasileiros que, talvez, se concretize esse ano. E temos o projeto que vai ser lançado neste ano do Edu com cursinhos populares.
Em entrevista ao Farol Jornalismo em 2017, Paula Miraglia já falava sobre esse potencial educacional dos conteúdos do Nexo, destacando os cursos da Escola N.
O fato de não termos publicidade nos dá um incentivo muito grande para produzir um conteúdo de extrema qualidade que faça com que as pessoas se sintam propensas a pagar por ele.
As assinaturas digitais têm sido uma tendência mundial. Mas alguns autores têm refletido sobre a dificuldade para o cidadão comum de assinar mais de um jornal digital. Vocês pensam sobre isso? Qual é o diferencial do Nexo frente aos outros veículos?
A gente pensa muito sobre isso, pois é o nosso core business, apostamos muito nas assinaturas. O primeiro aspecto é que a gente procura fazer o processo muito fácil, tanto de assinatura quanto de cancelamento. O fato de não termos publicidade nos dá um incentivo muito grande para produzir um conteúdo de extrema qualidade que faça com que as pessoas se sintam propensas a pagar por ele. É muito diferente se eu produzo uma notícia que pode ser encontrada no meu veículo e de uma maneira muito parecida em cinco outros veículos, sendo que alguns oferecem isso de graça, sem paywall. A gente procura investir na produção de conteúdos únicos, que as pessoas não vão achar em outros lugares e que isso, portanto, faça com que elas assinem o Nexo. Entendemos que há algumas motivações por trás de uma assinatura: tem pessoas que assinam o Nexo porque querem apoiar esse projeto, elas têm uma grande identificação. Nossa assinatura não é muito cara, então isso, em alguma medida, democratiza o acesso e o número de pessoas que podem assinar o jornal. Temos um paywall que libera cinco conteúdos gratuitos por mês,não fechamos completamente, como têm feito alguns veículos. Apostamos na assinatura como principal fonte de receita do jornal.
A adoção do paywall divide opiniões na indústria e na Academia. Na NFJ #233, citamos os diversos veículos jornalísticos que têm tido êxito neste modelo. E na NFJ #220, repercutimos o argumento do professor Jeff Jarvis de que o paywall só dará certo para alguns.Com as assinaturas e o recente aporte da Luminate, a operação do Nexo está sustentável?
O jornal ainda não é sustentável, mas será neste ano. Estamos dentro do nosso plano e, neste ano, a gente atinge o break even [o ponto de equilíbrio entre as despesas e receitas de uma empresa].Sobre o grupo do Nexo no Facebook que você citou anteriormente, como tem sido essa experiência de diálogo com os leitores?
Ela começou no período crítico das eleições de 2018…
Tem sido uma experiência muito boa. Hoje isso está em qualquer manual, a ideia de você cultivar um senso de comunidade. A gente foi fazendo de forma muito orgânica. No começo, ficávamos pensando: como um veículo responde a uma interação de um emoji de coraçãozinho, por exemplo? A gente teve que definir a nossa personalidade, como a gente interage, e resolvemos ser diretos e transparentes. Eu acho que hoje a principal característica da nossa relação com os leitores é que é horizontal e eles percebem isso. Vou dar outro exemplo: o Facebook tem uma lista de palavras que oculta automaticamente nos comentários. Se o seu comentário foi ocultado porque você usou uma palavra que está nessa lista, a gente vai no privado e te avisa: você não quer refazer e voltar para a conversa? E isso dá muito certo. Tem pessoas que reclamam, falam que estamos censurando, mas muita gente gosta, fala que estava de cabeça quente, agradece por ter alguém cuidando e refaz o comentário.Essa questão da moderação é importante, né?
Sim, tem alguém lá, não é um terreno abandonado. As pessoas apontam erros, a gente responde; fazem perguntas, a gente explica; reclamam que têm que pagar para ler o jornal, a gente explica por que a assinatura foi nossa aposta. Isso já criou nas nossas redes sociais uma interlocução muito grande. Criamos o grupo no Facebook olhando um pouco como outros veículos faziam e foi super legal. Numa eleição marcada pela polarização, havia eleitores de candidatos diferentes se dispondo a debater. Para mim foi super emocionante ver que a gente tem leitores que se identificam com o projeto do jornal e se identificam com essa ideia de que é importante ouvir o outro lado. E por isso decidimos manter o grupo e o transformamos num grupo de assinantes, onde temos testado algumas coisas também. Quando recebemos o financiamento da Luminate eu fui lá e contei – eu já tinha mandado por e-mail – mas me coloquei lá à disposição para responder qualquer pergunta e as pessoas tinham perguntas, e respondi todas. Então eu acho que isso vai criando esse espaço de interação.
Essas iniciativas do Nexo se aproximam muito do conceito de membership que, como destacamos na NFJ #229, não é apenas um novo nome para assinaturas. Pontos-chave: estar aberto a ouvir e valorizar a opinião dos seus membros, além de oferecer formas de participação que contemplem suas habilidades, objetivos e limitações.
Ao lado, uma definição de membership de Emily Goligosky, do Membership Puzzle Project, em um texto publicado no Guardian.
“Trata-se de participação em uma causa maior que reflete no que as pessoas querem ver na sociedade civil. Em um membership, há um contrato social ou uma proposição de valor diferente entre o site e seus membros.”
Quais são os principais indicadores de sucesso para o Nexo? Quais as métricas que mais importam?
Esse endosso público que nossos leitores fazem do Nexo é, para nós, um indicador importante, ou seja, o fato de que as pessoas compartilham, divulgam, usam nosso material para debater ou endossam o jornal publicamente. Obviamente a audiência, o alcance do nosso material é também um indicador. Assim como o fato de que temos muitos professores usando o Nexo em sala de aula e dizendo isso para a gente. Desde que foi lançado, o material do Nexo foi usado nos principais vestibulares e no Enem, isso também é um indicador relevante. Nosso material é compartilhado por políticos de inclinações muito variadas, a gente gosta de acompanhar isso e vemos um pouco o impacto da nossa cobertura no debate.
Como é que as pessoas se apropriam daquilo que a gente está publicando para debater temas que são importantes para o país? Temos um crescimento constante e sustentável das assinaturas, obviamente isso é um indicador super relevante por estar diretamente associado à sustentabilidade. Um outro indicador é o tipo de parceria que a gente tem sido capaz de estabelecer, como com centros de pesquisas relevantes nas suas áreas. E os prêmios também. Fomos reconhecidos como o melhor site de notícias da América Latina pela WAN-IFRA e somos finalistas a melhor site de notícias do mundo, concorrendo com o Guardian e o Washington Post. Para um jornal que tem três anos e meio é um super reconhecimento. Por fim, o Nexo acabou de ganhar o selo do Trust Project e isso também foi um reconhecimento importante porque muitos atributos nós já tínhamos desde o começo, então fomos um dos primeiros a aderir ao projeto aqui no Brasil. Já está no Sobre do nosso site e, em breve, vai começar a aparecer nos nossos conteúdos.
Dados sobre a audiência são fonte de estresse ou força para o bem? Discutimos isso na NFJ #152, a partir de duas opiniões antagônicas sobre o assunto. E na NFJ #216 perguntamos: ainda podemos confiar nas métricas em um contexto marcado por bots e fábrica de cliques?
Sobre o Trust Project, leiam esta entrevista da diretora do programa, Sally Lehrman, ao Nexo.A seção Gráfico do Nexo foi bastante inovadora. Vocês a consideram um diferencial dentro do jornal?
Eu acho que sim, virou uma linguagem do Nexo. Nós fomos muito pioneiros nessa frente de pensar na infografia e na visualização de dados como uma estratégia de comunicação jornalística. Temos procurado inovar bastante, tendo cuidado seja olhando para quais bases de dados a gente usa, seja não tendo nenhum preconceito com relação às pautas que podem ser tratadas com gráficos. Podemos fazer um gráfico da Pnad, mas podemos fazer também um gráfico de obras literárias; um do Censo, mas também dos Vingadores. Eu acho que não ter preconceito em relação aos temas também é um diferencial na forma como os gráficos se estruturam e a gente tem procurado sempre aperfeiçoar, como quando os gráficos aparecem nos vídeos, quando a gente tem uma dobradinha de infografista com repórter fazendo uma determinada matéria… São espaços de inovação dentro do jornal.
No meio dessa desinformação e desconfiança, a gente tem procurado maneiras de sinalizar para os nossos leitores quais são os critérios que usamos para atribuir confiabilidade na informação que produzimos.
Qual é a importância das redes sociais e do Google dentro da estratégia do Nexo? Tendo em vista a circulação de desinformação nas redes sociais e a falta de transparência das plataformas.
No meio dessa desinformação e desconfiança, a gente tem procurado maneiras de sinalizar para os nossos leitores quais são os critérios que usamos para atribuir confiabilidade na informação que produzimos. A transparência radical que eu falo dialoga com isso, como se estabelece uma relação de confiança, como você fala para o leitor qual é o processo de produção daquela notícia. Em relação às plataformas, a gente tem usado todas elas – Facebook , Twitter, Instagram -, tentando entender a função de cada uma, criando uma versão do Nexo de uso de cada uma delas. Hoje elas trazem muitos leitores para o Nexo. Muitas pessoas acessam o Nexo pela home, ainda que, lá atrás, as pessoas tenham dito que isso estava em declínio e mesmo sem a gente ser um jornal totalmente noticioso.As redes sociais ainda são uma fonte de tráfego importante?
Ainda são uma fonte importante, mas não como eram. Antes havia uma primazia das redes sociais e hoje a busca orgânica é também muito importante, com tendência de crescimento. Mas as redes sociais são um canal de muita conversa, muita troca. Para nós é um combinado, a gente tem investido em todas essas frentes. E temos olhado o YouTube com cada vez mais atenção. Ganhamos um financiamento do YouTube para desenvolver produtos novos junto com mais três veículos no Brasil e um conjunto de outros veículos no mundo, é um funding internacional. O YouTube é um buscador super importante hoje e a aba Comunidade do nosso canal tem se mostrado um lugar muito vivo também de troca a interação.
A relação entre jornalismo e plataformas tem sido objeto de muitas reflexões e algumas críticas. Na NFJ #225, a professora Emily Bell fala em conflito de interesses entre jornalismo e Google. E na NFJ #197 abordamos esse relacionamento complicado, em que o tráfego do Facebook para os site de notícia só despenca.A Inteligência Artificial têm entrado nas redações por meio de notícias automatizadas e de chatbots, por exemplo. O Nexo criou um chatbot com questões do Enem. Pode contar um pouco como ele foi produzido e os resultados?
Nós adoramos esse projeto, fizemos em caráter piloto por dois anos. Ele foi super bem avaliado por quem usou, o retorno foi muito bom, tanto qualitativo quanto quantitativo. E queremos expandi-lo para este ano, queremos alcançar um público ainda maior. Esse é um daqueles projetos em que podemos experimentar um formato novo. Mas ele é ainda mais importante porque estamos ajudando pessoas a se prepararem para um teste como o Enem, e damos um significado novo para o conteúdo que produzimos. Traz uma satisfação muito grande saber que as pessoas usaram o jornalismo que a gente produz para se preparar para um teste que é super importante para a vida delas e pode impactar muito suas trajetórias. É um projeto que junta muitas dimensões e que ilustra o que a gente conversava no começo da entrevista, porque ele é fruto do trabalho de várias equipes: envolve a equipe de Tecnologia, envolveu a equipe de Redes, que foi quem criou o projeto, e tem um olhar editorial para a seleção dos conteúdos. Trata-se do resultado da interação de diferentes núcleos.
Relacionamento com os leitores: a experiência do grupo do Facebook do Nexo é marcante no jornalismo brasileiro e mostra como ouvir e interagir com a audiência pode qualificar o debate, melhorar as pautas e criar um senso de comunidade.
Curva de crescimento: diante de um contexto de crise, o Nexo parece ir no sentido oposto. Anunciou a criação de um novo veículo, está prestes a conseguir a sustentabilidade financeira e planeja novos produtos e projetos.
Redações enxutas e segmentadas: assim como o Jota e a Agência Pública (só para citar dois exemplos), o Nexo é parte de uma tendência que começamos a observar. Redações com menos de 40 pessoas, focadas em determinado nicho (no caso deles, o segmento temático do jornalismo explicativo).
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