Foi com a frase acima que Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, resumiu a iniciativa do The Guardian de sinalizar de maneira mais visível a “idade” de suas notícias antigas, tanto no site quanto nas redes sociais. E como eles descobriram que seus leitores estavam repercutindo assuntos antigos sem um contexto crucial? Analisando as métricas de pageviews.
Neste texto para a Columbia Journalism Review, o editor de Projetos Digitais Chris Moran detalha o processo, que começou quando Nick Dastoor, jornalista da equipe de Audiência, percebeu um aumento nas visualizações de páginas de uma notícia sobre um bombardeio em uma igreja no Paquistão. Analisando mais a fundo os números (o Guardian tem uma ferramenta própria de métricas chamada Ophan), Dastoor identificou que 51.000 pageviews vinham quase inteiramente do Facebook, que o público estava acessando a história principalmente de seus celulares, de maneira global e, o mais surpreendente, sem nenhum tipo de divulgação por parte do Guardian (eles acreditam que foi impulsionada por páginas de nicho no Facebook). E esses leitores estavam gastando apenas alguns segundos em uma matéria de 942 palavras. “Ficou claro para Dastoor que o que estava acontecendo não era sobre o jornalismo em si”, conta Moran.
Ao analisar quais tweets haviam enviado cliques para a notícia, Dastoor viu que nenhuma das pessoas havia notado que a notícia era de 2013. Os dados mostraram ainda que grande parte da disseminação nas mídias sociais estava acontecendo sem que as pessoas sequer clicassem na peça. E foi depois desse episódio que o Guardian decidiu adicionar o ano em notícias mais antigas junto à marca d’água que já utilizavam para identificar suas fotos. Vejam a diferença:
Para Chris Moran, as métricas estão tornando o jornalismo melhor, embora muitos as odeiem. E sai em defesa das pageviews.
“Elas costumam ser descartadas como métricas de vaidade, cujo único propósito é aumentar o ego dos redatores. Mas alcançar um público amplo é uma parte crucial do ato jornalístico. As métricas, em sua essência, são simplesmente medidas e precisam ser contextualizadas por um julgamento editorial especializado. Mas elas são uma parte crucial para garantir que as notícias sejam disseminadas de forma ampla e responsável”
Neste texto para o Nieman Lab, Joshua Benton destaca a questão técnica por trás da mudança, que “é muito inteligente”. E reproduz o tuíte do Head de Engenharia Mariot Chauvin: “Basicamente, usamos uma capacidade de sobreposição do nosso serviço de imagem CDN Fastly para gerar uma imagem específica para servir como um metadado”. Está tudo em código aberto aqui, para quem quiser usar.
A iniciativa repercutiu muito durante a semana. Para Federica Cherubini, editora de Audiência da Condé Nast, o Guardian vai melhorar a transparência e contextualizar seu jornalismo de maneira mais precisa.Nic Newman, do Reuters Institute, destaca que “seria ótimo ter padrões comuns sobre isso em toda a indústria”. Nicole Blanchett, professora do Sheridan College, lembra que o professor Paul Bradshaw já havia notado anteriormente o problema neste texto de 2017, e que ela também discutiu a importância de identificar o conteúdo antigo em sua tese de doutorado.
Leia mais sobre a iniciativa do The Guardian
- Blog do The Guardian: “Por que estamos tornando a idade do nosso jornalismo mais clara”
- BBC News: “Guardian vai marcar notícias antigas em mídias sociais”
- PressGazette: “Guardian acrescenta avisos mais óbvios a histórias antigas para impedir que ‘maus atores’ confundam leitores”
PPT para usar em sala de aula
- Preparamos uma apresentação para os professores que quiserem conversar com seus alunos sobre a inovação do The Guardian. Se foi útil pra você, conte pra gente! (contato@faroljornalismo.cc)