O desafio de atingir a audiência jovem é comum a veículos de todo mundo. Nesta série, vamos descobrir maneiras e exemplos de fazer o jornalismo ser protagonista na formação de novos públicos.

Alcançar a audiência jovem tem se mostrado um dos maiores desafios do jornalismo atual. Afinal, são pessoas que não cresceram vendo seus pais lendo jornal impresso ou ouvindo rádio pela manhã. Ao contrário: estão constantemente expostos à experiência pessoal das redes sociais, repleta de recomendações de amigos e entretenimento. Como inserir as notícias nesta rotina?

O Farol Jornalismo começa hoje uma série de quatro análises em que traremos os desafios que se impõem ao engajamento dos jovens, os veículos que estão tendo sucesso com esse tipo de audiência e algumas pesquisas na área. Vamos lá?

Nesta entrevista, Aslak Gottlieb, ex-professor que dirige um programa sobre educação na Associação de Mídia Dinamarquesa, identificou um conjunto de critérios de engajamento criados para serem usados ​​como ferramentas editoriais com o público mais jovem. Eles foram projetados para complementar os valores das notícias mais usadas na Dinamarca, a saber: atualidade, relevância, sensação, familiaridade e conflito. Os cinco critérios de engajamento identificados por Gottlieb são tendências, significado, engajamento, surpresa e soluções construtivas.

Segundo ele, é um mito que os adolescentes gostam de conteúdo colorido e barulhento. “Pelo menos nos grupos focais, descobrimos que você não precisa gritar em voz alta para facilitar o envolvimento deles com as notícias. Mantenha a calma, ouça seu público e assista ao comportamento da mídia em geral para encontrar as maneiras sobre como abordá-los”.

Gottlieb explica que o público mais jovem realmente quer se envolver nos assuntos tradicionais de que trata o jornalismo. “Eles querem se engajar em tópicos de interesse geral da sociedade e consideram importante e relevante o papel da imprensa. Por outro lado, são muito exigentes quanto à dieta da mídia. Intuitivamente, sentem que não são um público-alvo”, afirma.

Uma das formas para atingir esse público é, segundo o professor, alcançar esse público onde ele está. “Toda uma geração de jovens adultos sabe que os jogos são uma das atividades de mídia mais influentes. Então, por que não experimentar os newsgames?”, questiona.

Surpreendentemente, ele se diz empolgado com jornais impressos para crianças. Para Gottlieb, são grandes metáforas da notícia como um fenômeno jornalístico, que têm um efeito de longo prazo sobre os usuários, porque as notícias estarão na dieta da mídia desde o início da vida. 

“Estou convencido de que veículos como o The New York Times e Dagens Nyheter estão criando uma boa imagem da imprensa entre o público jovem, oferecendo assinaturas digitais gratuitas em determinadas ocasiões. Ainda mais cruciais são as iniciativas em que o público mais jovem é convidado a colaborar na criação de conteúdo. Esses tipos de projetos mostram que a mídia não é surda para esse público”.

Esta matéria do site Journalism.co.uk lembra que jovens entre 18 e 34 anos passaram pouco mais de um minuto por dia lendo notícias durante o período eleitoral de 2019 no Reino Unido, segundo estudo do Reuters Institute.

Um minuto!

Dado este contexto, o que as organizações de mídia podem fazer para reavivar o relacionamento do público jovem com as notícias? A resposta pode estar em repensar a agenda de notícias que muitos jovens consideram repetitiva, criando novos formatos e mudando o tom excessivamente “negativo”.

Para combater isso, algumas publicações como o HuffPost e a BBC começaram a exercitar o jornalismo construtivo ou baseado em soluções. Isso lhes permite falar sobre os problemas, mas também examinar soluções que fazem o público se sentir mais empoderado e esperançoso em relação ao futuro.

Formatos mais simples de histórias, explicadores e conteúdo de contexto também facilitam o consumo das notícias pelos jovens. Um bom exemplo de conteúdo acessível é o podcast diário de notícias do Guardian, Today In Focus, que procura além das manchetes “uma compreensão mais profunda das notícias”. Ele apresenta um desempenho particularmente bom com ouvintes mais jovens.

O caso do Media Wise

Outro exemplo é o site MediaWise, que ensina adolescentes a diferir notícia e ficção nas redes sociais. Neste texto para o Poynter, as fundadoras Heaven Taylor-Wynn e Alexa Volland admitem que lidar com adolescentes é uma batalha diária.

“O MediaWise não possui um site. Um produto impresso nunca foi realmente uma opção. O projeto vive apenas de conteúdo social, o que significa que primeiro precisamos pensar em como o conteúdo será compartilhado e, em seguida, como será apresentado. Isso também significa que precisamos ser rápidos para nos adaptar ao cenário em constante mudança das mídias sociais e estar dispostos (às vezes com relutância) a aproveitar os aplicativos e tendências da moda”.

Elas explicam que, como estão ensinando os adolescentes a discernir o que é real e o que não é na internet, vão encontrá-los onde estão – no Instagram, Snapchat, Twitter ou TikTok.

“Isso não significa que os adolescentes sejam um mercado inatingível; significa que precisamos ter presença nos aplicativos em que eles estão. E fazer isso o mais cedo possível”, afirmam.

Tentativa e erro parecem ser palavras de ordem. Para elas, a única maneira de descobrir se um novo aplicativo funcionará é experimentando-o. 

“Em termos de MediaWise, estamos fazendo algo que nunca foi feito antes e escrevendo as regras à medida que avançamos. A maioria das redações obviamente não tem uma rede de adolescentes à sua disposição, mas vemos muito valor no interesse dos adolescentes’.

Elas citam a presença do Washington Post no TikTok, plataforma que pode parecer uma perda de tempo num primeiro momento. “Após uma inspeção mais aprofundada, você percebe que o algoritmo do TikTok é feito para manter o usuário envolvido de uma maneira que outras plataformas populares não têm. Os adolescentes estão fascinados nisso”.

Heaven Taylor-Wynn e Alexa Volland ponderam que o TikTok não será um veículo para publicar jornalismo investigativo. “No entanto, se pretendemos informar os adolescentes, temos que fazer esforços conjuntos para alcançá-los”, destacam.

Por fim, elas recomendam: siga o público jovem e seja rápido em descobrir onde estão e como se comportam nesses ambientes.