BuzzFeed News, Wall Street Journal, Poynter Institute, Google News Initiative e até uma TV pública dinamarquesa estão criando estratégias para engajar os jovens nos conteúdos jornalísticos.

A segunda análise da série sobre jornalismo e audiência jovem (leia aqui a primeira) começa com uma notícia desta semana: o Poynter Institute e o Google News Initiative estão se unindo para ajudar três redações locais a alcançar o público jovem por meio de vídeos para mídias sociais. O programa, chamado VidSpark, terá duração de um ano e culminará com um manual para que as redações locais possam envolver os jovens em suas comunidades.

Esta matéria do Poynter cita depoimento do presidente do Instituto, Neil Brown. Segundo ele, o projeto será um laboratório para experimentar novas formas de contar histórias e ajudar as redações a compartilhar seu jornalismo com aqueles que atualmente não se sentem compelidos pela cena noticiosa local. “A narrativa em vídeo inteligente e criativa pode ser um caminho real para as organizações de notícias locais atingirem o público mais jovem”, diz ele.

Um jornal, uma emissora de rádio e uma de TV foram selecionados para o VidSpark: The Minneapolis Star Tribune, 89,7 WGBH News em Boston e 10News WTSP em Tampa, Flórida. Cada redação receberá US$ 25.000 para promover esforços na produção de vídeos. O Poynter fornecerá treinamento e consultoria às redações.

O Google é também parceiro do Poynter no MediaWise, projeto de alfabetização digital para adolescentes sobre o qual falamos na semana passada. lembram? A matéria informa que o MediaWise alcançou mais de 5 milhões de pessoas em seu primeiro ano. Nada mau, né?

BuzzFeed News está contratando três adolescentes para cobrir as eleições no EUA

Esta é outra notícia super recente. O BuzzFeed News quer incluir mais vozes jovens na conversa nacional em torno da campanha eleitoral presidencial, contratando adolescentes de 16 a  19 anos para produzir conteúdo noticioso para Instagram Stories e TikTok.

De acordo com essa matéria do Journalism.co.uk, a cada semana, os três ‘jovens embaixadores’ produzirão vídeos para ampliar as vozes que estão faltando na cobertura das eleições. Sarah Yasin, diretora de curadoria de notícias, explica que cada adolescente receberá treinamento e trabalhará em estreita colaboração com a equipe de notícias para garantir que o conteúdo produzido atenda aos padrões jornalísticos.

“No entanto, os colaboradores terão a liberdade criativa de contar histórias de maneiras novas e interessantes nas duas plataformas sociais, além de incentivar discussões e debates”, afirma.

Outra questão importante é que os adolescentes serão remunerados pelo trabalho. Yasin enfatiza que era muito importante que o BuzzFeed pagasse a seus colaboradores.

“As pessoas mais jovens, sejam estagiárias ou participando deste programa, devem ser remuneradas porque estão fazendo um trabalho interessante e bom. Elas podem precisar de mais treinamento, mas é um trabalho e é realmente importante valorizá-lo”.

A decisão de contratar adolescentes para falar com adolescentes parece óbvia, mas é bastante desafiadora. Outro detalhe é o foco na produção de conteúdo audiovisual, que é o que mais atinge esse público.

WSJ tem uma editora de audiência jovem

Pra vocês terem uma ideia de como os veículos estão voltando atenção para a formação de novos públicos, o Wall Street Journal tem, desde o ano passado, uma editoria de audiência jovem. A editora Lauren Redding, ex-Rookie Magazine, lidera uma equipe multidisciplinar que “criará uma revista digital destinada a atrair a crescente base de leitores na casa dos 20 anos que já assinam o jornal, bem como outros jovens que procuram se conectar com o jornalismo do WSJ”, diz essa matéria do Nieman Lab.

A revista online será feita por essa equipe, com participação direta de jornalistas da redação. É interessante observar que, embora seja voltada para o público jovem, o WSJ afirma que o conteúdo será concebido para reconhecer a diversidade de interesses e gostos também da audiência mais ampla do jornal.

Emissora de TV dinamarquesa utiliza memes para atingir audiência jovem

Em entrevista para o professor Paul Bradshaw, da Birmingham City University, a diretora de Notícias da TV2 Østjylland Louise Petterson e a diretora de Arte Kristine Helms explicam os desafios de construir uma nova linguagem numa nova plataforma – o Instagram – e o que aprenderam ao longo do caminho.

Uma coisa é certa quando se trata de audiência jovem: não é possível simplesmente pegar a narrativa da TV e colocá-la no Instagram ou Facebook. Petterson afirma que tiveram que descobrir uma nova narrativa, uma maneira única de se comunicar com a audiência jovem.

E a forma que encontraram foi: memes 🙂

Inspirada em sites como o 9GAG, Helms conta que resolveram tentar se comunicar na linguagem que os jovens entendem. 

“Mas também era importante para nós, por sermos um serviço público, ter um elemento de jornalismo; que não era apenas entretenimento. Tinham que ser histórias jornalísticas que queríamos comunicar por meio de memes ou gráficos. Então estava tudo bem que as pessoas rissem, mas também precisava haver um elemento de jornalismo. Quando os jovens veem nossos memes, eles também têm uma história”, explica.

Adaptar técnicas de memes a um ambiente jornalístico não é tarefa fácil. Bradshaw lembra que a pressão do tempo nas notícias, sua natureza imprevisível e os aspectos legais da tentativa de explorar um assunto visualmente se apresentam como desafios.

Para Petterson, a experiência com o jornalismo de memes contribuiu para o desenvolvimento da organização de maneira mais geral, porque eles descobriram uma nova maneira de pensar em como contar uma história. “É tudo sobre humor e identificação. Essa maneira de ver algo, decodificá-lo imediatamente e entender o que isso me diz”, afirma.

Vejam abaixo um exemplo de meme utilizado pela emissora de TV:

“Quando você descobre que não pode mais comprar uma passagem de ônibus com uma única moeda” – a matéria é sobre o aumento no preço das passagens de ônibus.

Outra questão muito relevante que as editoras abordam é a possibilidade de levar aos jovens o conhecimento da realidade local, como no exemplo acima. Elas contam que é fácil para qualquer um deles saber os memes da família Kardashian, mas é muito legal quando os jovens, sem perceber, começam a aprender mais sobre suas áreas locais.

Faz sentido, não? 

No especial O Jornalismo no Brasil em 2020, que publicamos em parceria com a Abraji, a co-fundadora e diretora geral do Nexo Jornal, Paula Miraglia, defende a criação de canais de interlocução com os leitores, nas plataformas onde eles costumam estar.

“Estamos realmente falando de novos comportamentos no consumo de notícias (sobretudo entre os mais jovens), do protagonismo das plataformas de distribuição de conteúdo, inclusive o jornalístico, e de todos os problemas e desafios que elas trazem. (…) No Brasil e no mundo, 2020 será um ano em que aquilo que chamamos de engajamento da audiência ganhará ainda mais centralidade, em versões cada vez mais criativas”.

Miraglia lembra que os jornais estão na memória afetiva das trajetórias individuais. Mas como os leitores mais jovens estão construindo essa memória? Segundo ela, a ideia de “li na internet” ameaça a construção de uma relação com essa ou aquela marca. “O desafio de engajar leitores passa, assim, pela decisão de estar mais próximo e estabelecer uma relação mais horizontal com a audiência”, diz. Na prática, isso significa escutar sugestões, reconhecer publicamente os erros, celebrar os elogios, ou ter a disposição para explicar seu modelo de negócios e princípios editoriais.