Buenas, pessoal.
Em primeiro lugar, precisamos pedir desculpas. O MailChimp barrou o envio da news ontem. Ainda não sabemos por que, mas temos uma suspeita: achamos que os robôzinhos deles não gostaram da expressão “passaralho”, que estava no título original desta edição. Devem ter confundido com outra coisa. Bobinhos e pudicos. Enfim. Essas coisas acontecem. Até que a coisa se resolva, resolvemos publicar a edição 276 no nosso site.
Bueno, estamos eu, Moreno, e Lívia nesta edição. Nosso texto de abertura original começa agora:
Que fase, Brasil.
Como se não bastasse a pandemia, agora temos também uma crise que pode ganhar proporções inimagináveis (falamos do pedido de demissão do ministro Moro, claro). Foram mais de 24 horas de apuração incansável dos veículos (a Folha cravou desde ontem), com muitos políticos e apoiadores do presidente acusando a mídia de fake news.
Não era.
Enquanto isso, parece que estamos vivemos o começo de uma nova revoada dos passaralhos. Falamos sobre isso também nesta edição. Mais do que isso, o Farol Jornalismo se solidariza com quem foi demitido ou teve salário seu reduzido em um momento de angústia e incerteza.
Antes de começar, um aviso. Lá com começo da quarentena, falamos que as análises no nosso site estariam suspensas até o dia 17. Infelizmente, teremos de prorrogar a suspensão. Provavelmente, teremos de manter assim até o fim (ou flexibilização) do confinamento. Avisamos vocês.
Vamos à news, então? Mas antes abram uma cerveja, um vinho ou algo do tipo, plmdd, porque hoje o cenário pede um trago ASAP.
🍂 Com o noticiário político pegando fogo – em pouco mais de uma semana os ministros Mandetta e Moro deixaram o governo – e cemitérios abrindo valas comuns para enterrar as vítimas do coronavírus, fica difícil dar notícias boas, como pediu o general Ramos esta semana. Surpreendentemente, a crítica à “cobertura maciça de fatos negativos” vem de um ministro que tem sob seu comando a Secom. E ele é também um militar, o que fez com que Bernardo Mello Franco relembrasse, em sua coluna n’O Globo, um fato dos tempos da ditadura: “Nos idos de 1967, o marechal Costa e Silva fez uma reclamação à condessa Pereira Carneiro, então proprietária do Jornal do Brasil. ‘O seu jornal tem tratado muito mal a mim e ao meu governo’, queixou-se. Em tom diplomático, a senhora respondeu que o diário buscava publicar críticas construtivas. O ditador reagiu com franqueza: ‘Eu gosto mesmo é de elogio’”. O Núcleo Jornalismo fez uma análise dos tweets após a demissão de Mandetta e viu a negatividade das postagens disparar, o que “indica uma potencial contrariedade com o afastamento forçado do ministro pelo presidente”. Hoje não será diferente, com o pedido de demissão de Moro.
🍂 Se por um lado o jornalismo tem se mostrado extremamente relevante em tempos de crise (política e de saúde), por outro está sendo duramente atingido. O Grupo Estado fez uma reunião com seus mais de 250 jornalistas para anunciar uma redução de salário de 25% pelos próximos três meses, diz esta matéria do Brazil Journal, informando ainda que a RedeTV vai fazer o mesmo, só que com corte ainda maior – 50% dos salários. De acordo com o Comunique-se, nos jornais cariocas O Dia e Meia Hora a redução será de 25%, e os funcionários reclamam também do não pagamento do vale-alimentação. A RBS/Gaúcha ZH demitiu hoje no mínimo duas dezenas de profissionais. O site Clases de Periodismo repercutiu as perdas na imprensa brasileira. O Intercept Brasil disse, em sua newsletter, que as redações estão sob o ataque do coronavírus e informa: BuzzFeed Brasil pode fechar as portas por falta de dinheiro; rádio Bandeirantes SP suspendeu o contrato de seus comentaristas; e a Abril, que já estava em grave crise, projeta que a pandemia irá dificultar a saída do atoleiro. A situação também não é boa para os fotojornalistas, que precisam sair de casa para trabalhar, aumentando os riscos de contrair a Covid-19. Em entrevista ao Objethos, o pesquisador Thales Lelo chama atenção para outro problema trazido pela pandemia: a precarização do trabalho dos jornalistas, “que passam a viver disponíveis 24 horas para a cobertura, que agora é feita de dentro de casa. Acredito que a experiência de trabalho remoto pode ser interessante para empresas inclinadas a sobrecarregar ainda mais seus trabalhadores sob a justificativa de que a cobertura da pandemia é prioridade sobre qualquer outra esfera da vida”, diz. Percebendo o momento delicado, a Abraji transmite lives semanais sobre o trabalho de jornalistas em meio à pandemia (a próxima será dia 28, às 21h, no Insta). Lá fora, Financial Times e Guardian vão reduzir salários dos cargos mais altos. Para ter força de luta contra os cortes, profissionais da Wired resolveram se organizar em uma associação editorial. Enquanto isso, caímos duas posições no Ranking de Liberdade de Imprensa da RSF. Pra fechar esse bloco com uma boa notícia, a Fenaj comemorou a volta da obrigatoriedade do registro profissional de jornalistas.
🍂 Uma seleção de artigos, publicados esta semana, que analisam os desafios que o jornalismo tem diante de si sob diversos aspectos: artigo da Wired afirma que a fadiga de notícias sobre o coronavírus já é realidade. “Há três razões para esse mal-estar geral: as notícias deixam as pessoas deprimidas; também as faz se sentir impotentes; e as pessoas simplesmente não confiam nas notícias – elas as veem como superficial, sensacionalista e imprecisa”. Mathew Ingram conta na CJR que a procura por boas notícias tem crescido muito – o que pode ser necessário diante de uma crise sem precedentes – mas também pode significar um escapismo ilusório.O Nieman Lab analisa que as constantes mudanças da pandemia podem tornar os jornalistas mais confortáveis ao expressarem incertezas e lidarem com informações provisórias. A GJIN elenca formas de adaptar modelos de membership e eventos durante a pandemia: faça apelos a assinaturas, transforme eventos presenciais em online; atue em conexão com as comunidades; melhore e incremente as redes de especialistas. Análise do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2020: “estamos entrando numa década decisiva para o jornalismo, e o coronavírus é um fator multiplicador”. E apontam cinco crises desta década: geopolítica (agressividade dos modelos autoritários), tecnológica (falta de garantias democráticas), democrática (polarização, políticas repressivas), de confiança (suspeita e ódio direcionado aos meios de comunicação), e econômica (precarização do jornalismo de qualidade).
🍂 “Você se tornou o ‘personal fact-checker’ de seus amigos e família?”, pergunta Cristina Tardáguila, em artigo para o Poynter, em que conta algumas de suas experiências desde o início da pandemia. E é claro que tudo isso tem um fator psicológico. “A sensação de medo é uma emoção que nos leva a tomar más decisões. Diante de uma notícia que nos gera medo, é mais fácil que se tome a decisão de compartilhar rapidamente, o que, mesmo com boa intenção, pode nos converter em difusores de desinformação ”, afirma Alexandre López-Borrull, professor da Universidade Aberta da Catalunha, em entrevista ao Clases de Periodismo. Este texto da Forbes repercute pesquisa da Graphika, que identificou que vozes conservadoras e de direita desempenham um papel importante na divulgação online de desinformação sobre o coronavírus em todo o mundo. Pesquisadores da área de Saúde da USP criaram o COVID Verificado, site que responde dúvidas mais comuns indicando referências científicas e reúne novas pesquisas sobre o tema. Agora pasmem com essa reportagem da The Markup: embora tenha dito que está disposto a combater a desinformação sobre o coronavírus, Mark Zuckerberg estava permitindo que anunciantes lucrassem com anúncios direcionados a pessoas supostamente interessadas em “pseudociência” (mais de 78 milhões). Os jornalistas fizeram o teste e pagaram por um anúncio incluído nesta categoria, que foi imediatamente aprovado. Após muito insistir por uma resposta, o porta-voz do Facebook respondeu por email que a empresa havia eliminado a categoria “pseudociência”. Grave, né?
🍂 Agora, algumas dicas úteis: veja os seminários online da Fundação Gabo para jornalistas. Como organizar sua redação para o teletrabalho, segundo o diretor adjunto do Eldiario.es. “Cobrindo o COVID-19 agora e no futuro” é o novo curso online gratuito promovido pelo Knight Center, Unesco e OMS. Colabore com o “Inumeráveis”, memorial dedicado à história das vítimas do coronavírus no Brasil. Mande sua história para a jornalista Alana Rizzo pelo email inumeraveis@gmail.com com assunto “Quero ajudar”. O Lab404, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFBA, criou o “In Vitro: Dossiê Covid-19”, com artigos para pensar a pandemia e suas relações com as tecnologias digitais.
🍂 Para além do coronavírus: um ano depois de criar um algoritmo para tornar mais visível a data das matérias compartilhadas no site e nas redes sociais, o Guardian expandiu essa funcionalidade para incluir os artigos de opinião. Foi prorrogada até 31 de maio a inscrição para o Prêmio Roche de Saúde, que prestigia produções jornalísticas que cobrem a área. Faça download gratuito do relatório da WAN-IFRA sobre Media Labs, que faz parte de uma coleção sobre tendências nas redações.
É isso então, pessoal. Bom fim de semana e até sexta que vem.
Lívia Vieira e Moreno Osório
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alciane Baccin, Ana Claudia Gruszynski, Ana Paula Rocha, Anderson Meneses, André Caramante, André Schröder, Andrei Rossetto, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Garcez, Bibiana Osório, Boanerges Balbino Lopes Filho, Caio Cesar Giannini Oliviera, Carlos Dominguez, Carolina Oms, Carolina Silva de Assis, Casemiro Alves, Cecília Seabra, Cristiane Lindemann, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Edimilson do Amaral Donini, Eliane Vieira, Emilene Lopes, Estelita Hass Carazzai, FêCris Vasconcellos, Felipe Benício da Costa Dias, Felipe Cruz, Felipe Seligman, Filipe Techera, Flavio Dutra, Gabriel Jacobsen, Gabriela Favre, Giuliander Carpes, Guilherme Nagamine, Isaque Criscuolo, Janaína Kalsing, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Jordana Fonseca, Jorge Eduardo Dantas de Oliveira, Kaluan Bernardo, Leticia Monteiro, Lucia Monteiro Mesquita, Luiz Denis Graça Soares, Marcela Duarte, Marcelo Crispim da Fontoura, Marco Túlio Pires, Margot Pavan, Maria Elisa Maximo, Mayara Penina, Michelle Raphaelli, Nadia Leal, Nara Leal, Natália Levien Leal, Nícolas Barbosa, Paula Bianchi, Pedro Burgos, Pedro Luiz da Silveira Osório, Pedro Rocha Franco, Priscila Bernardes, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Grohmann, Raquel Ritter Longhi, Regina Maria Pozzobon, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rose Angélica do Nascimento, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Tatiane de Assis, Vinicius Batista de Oliveira, Vivian Augustin Eichler, Washington José de Souza Filho.